sábado, 24 de novembro de 2007

O Furo na Luta Contra a Dengue

Os brasileiros não deram conta de que existe um furo na luta contra a dengue. A luta tem arregimentado forças contra as vasilhas que possam juntar água; os grandes vilões até agora têm sido os pneus e os vasos de plantas; falam-se menos em caixas d’água descobertas, mas isto também é citado nas reportagens e campanhas, não de forma completa, porque o problema maior, a meu ver, está é mesmo nas caixas d’água. Algumas pessoas poderão dizer que o movimento constante da água em uma casa dificulta a metamorfose do mosquito; mas, em milhares de caixas há o risco assim mesmo, e é grande, pois o gasto da água é diferente em cada caso. Vou listar alguns problemas relaciondos com caixas d'água:

Um, por exemplo, que ainda não é o grande furo, é que algumas (algumas entre milhares são centenas e centenas), estão sem tampas, outras com tampas rachadas; existem muitas caixas com tampas de telhas de amianto que são onduladas, mas a questão das tampas, apesar de ser agravante, não é o problema maior.

Um problema maior ainda é a inacessibilidade de uma grande parte das caixas d’água. Tenho seguido de perto as visitas de agentes de combate à dengue: eles não conseguem subir na maior parte das caixas d’água para jogarem aquele pozinho. Às vezes despistam e dão um pouco ao dono dizendo que dê um jeito de subir depois. Eu mesmo adquiri uma casa duplex e quis limpar a caixa. Cadê? Não tinha por onde subir e, escada, tinha que ser daquelas emendadas, enormes, para subir por fora: que trabalhão. O que fiz: construí um acesso e agora posso estar lá pertinho da caixa na hora que precisar. Em meu condomínio existem muitas caixas nesta condição; em vários condomínios e casas de meu bairro também. Em todos os bairros também; em todas as cidades também! Como podemos ficar livre deste mosquito apenas atacando os vasos? Mas a inacessibilidade ainda não é o grande furo!

Estão vendo que na verdade existe a “síndrome da caixa d’água”? Inacessibilidade, tampas inadequadas, rachadas, afastadas pelo vento. Para complicar ainda existe a falta de um estudo científico adequado, de boa vontade dos moradores para resolverem tudo isto e – pasmemos- de leis que nos obriguem a isto, que nos façam ser multados caso estes males persistirem em nossos lares. Não somos multados no trânsito por avançar um sinal vermelho colocando em risco a vida de terceiros e a nossa? Minha mãe teve dengue por várias vezes, eu tive, minha esposa teve. Vários de meus vizinhos e amigos tiveram. Quem é o responsável? O mosquitinho? Enquanto estas falhas persistirem as autoridades são culpáveis, os moradores debaixo das caixas d’água são culpáveis. Os donos de vasos e de terrenos baldios são culpáveis. Tudo isto junto poderia ser designado de falha na logística da guerra contra a dengue, falha na pesquisa dos locais acessíveis ao mosquitinho safadinho, falha nas leis, na fiscalização, nas visitações dos agentes, mas este conglomerado de problemas não se constitui ainda no grande furo!

O ladrão de saúde é o "ladrão":
O grande furo que existe nesta guerra contra a dengue, minha gente, é um “buiaquinho” bestinha, pequeninho, e que ninguém dá nada por ele. Tem passado despercebido em todas as campanhas e reportagens. Em alguns lugares é chamado de ladrão, é aquele furinho que existe em quase todas as caixas d’água para esta escorrer quando a caixa se enche. Nem é tão necessário já que desde que me entendo por gente, e sei que muito antes disto, as caixas possuem um apetrecho denominado de “bóia” para exatamente não deixar a água derramar. Mas a tal bóia pode falhar, então seria aquela aguaceira caindo e aí o ladrão entra em trabalho de sangria. No entanto este grande furo, o pequeno buraquinho com aquele pedacinho de cano, tem servido para acrescentar, aos milhões, outro tipo de trabalho: o trabalho de parto dos ovinhos que “parem” cabecinhas de pregos, que se metamorfoseiam em mosquitos que picam “o outro” com dengue e nos transmitem a fatídica e humilhante doença.

Mas estou entrando nesta guerra para ajudar. Não desejo ser um tipo de correspondente que apenas fotografa a luta, mas alguém que impunha as armas. Tapei o buiaquinho de minha caixa (uma delas, que é antiga), pus um plástico envolvendo por baixo da tampa de telha de amianto, mas não deu certo: água da chuva escorreu e fez uma barriga no plástico e apareceu outro buraquinho para entrar o mosquito. Foi necessário outra tampa.

Também acredito que esta atuação não é ainda suficiente. Preciso ajudar mais e vou dar algumas idéias simples, que serão até mesmo “chover no molhado”, mas vou fazer minha parte. Acredito que algumas ações devem ser feitas pelas autoridades e outras pelos moradores. Vamos começar pelos últimos:

Moradores de casas que tenham caixas d’água (risos, quem não as tem?):

1. Criem acessibilidade para suas caixas d’água. Arrumem escadas e as deixem guardadas de modo que não apodreçam logo. Se possível façam escadas na parede. A maior parte são caixas em cima dos telhados ou entre a laje ou forro e os mesmos. Construam acessos a elas, as caixas precisam ser limpas de vez em quando.

2. Verifiquem os problemas com as tampas. Coloquem novas, remendem as rachadas se for possível. Não façam como eu que coloquei um plástico por baixo da tampa com defeito e não adiantou por que a chuva pesou sobre ele dando espaço ao espaçoso mosquito.

3. Enfim, acabem com este maldito buraquinho, o ladrão! Se não for possível tampá-lo para sempre, coloque um cano maior, descendo pela parede e ligado ao esgoto de águas. Se desejar algo melhor, coloque uma válvula hidráulica que passe a água que sai e não entra nada. Ou coloque telas no infiel buraco, façam um labirinto de canos com um minotauro que cace mosquitos dentro, mas façam alguma coisa!

Autoridades:

1. Acrescentem às campanhas a arregimentação popular contra o vilão número um, o buraquinho traidor.

2. Façam leis que obriguem-nos a auto fiscalizarmos as caixas, tipo assim, como as campanhas contra o câncer de mama. Que existam leis que nos levem a ser multados caso não corrijamos estes problemas. A dor nos nossos bolsos dói mais que a dengue dos outros. Creio que esta fiscalização cabe ao corpo de bombeiros, que, diga-se de passagem, cobra aqui em Pernambuco um imposto com nome de taxa, um tipo de IPTU para os bombeiros, que tenho crido ser ilegal, dúplice e absurda. Será que a OAB pode nos responder?

3. Façam uma reciclagem dos agentes visitadores, por misericórdia. Conversei com uma agente sobre este assunto, se poderia levar a alguma reunião, ela disse que não, que deveria me virar para conseguir ser ouvido. Demonstrou desinteresse de quem sabe que já está sendo feito tudo; no entanto estamos perdendo a guerra contra o mosquito. Estes agentes precisam dar um jeito para subirem nas caixas d’água (que tal um carro com escadas como se fosse de uma empresa que sobe em postes?), verificarem as tampas e o buiaquinho chamado de ladrão. Quando não for possível chamem o corpo de bombeiros, são vidas que estão em jogo.

4. Enfim, sobre o ladrão, o buraquinho safado: que sejam apresentados projetos que visem acabar com esta porta de entrada da dengue. Talvez válvulas especiais, canos que se interliguem, sejam lá o que for; que sejam apresentadas as soluções e exigidas suas execuções. Engenheiros ajudem!

Se desejar dar sua opinião use o espaço para comentários ou envie por email para glidorio@superig.com.br .

Até o próximo encontro.